era uma segunda feira de manhã, quarta talvez. de longe já se ouvia o comboio guinxando e ela apressava-se em passo de corrida em direcção á estação. era uma distância difícil a percorrer em pouquíssimo tempo, até ao interior da primeira carruagem. por isso, ela decidiu parar o passo de corrida. no entanto estava praticamente alcançado o comboio quando se fez soar o toque de partida. um frio percorreu-lhe estupidamente a espinha enquanto ficava a olhar o comboio a afastar-se. 'Porra!' pensou. mas não adiantou de nada. era dia de exame de alemão. 'Ainda por cima' pensou novamente. avançou de braços descaídos até ao banco mais próximo e sentou-se a olhar para um pombo preto, pousado num ramo de árvore que havia mesmo por cima da sua cabeça. 'Com tanto azar, só faltava o bixo cagar-me em cima da cabeça já agora...' pensou outra vez. ainda faltava imenso tempo para o próximo comboio...abriu o caderno de desenhos e pegou no lápis. de repente, apesar de continuarem lá, todos os ruídos abafaram-se e as pessoas que esperavam o comboio apagaram-se.
«a menina bem que se esforçou.», soou de algures uma voz idosa «bem que merecia. é injusto não é?»
«a menina bem que se esforçou.», soou de algures uma voz idosa «bem que merecia. é injusto não é?»
ela levantou a cabeça para localizar a voz.
«eu bem a vi correr. esforçou-se» repetiu.
uma senhora de cabelos incrivelmente brancos, sentada ao seu lado, olhava-a com olhar pequenino e azul. notava-se um certo saber na pose simples, no pousar delicado da mão sobre o colo e na sua forma de vestir simples mas combinada. a sua mão direita pousava sobre um guarda-chuva preto que certamente lhe servia de apoio ao andar.
«sim mas era praticamente impossível apanha-lo. não faz mal» respondeu
«não. faz sempre mal quando se perde algo. faz sempre mal» a velhota suspirou. «a menina é muito jovem, ainda vai perder muita coisa mas pode-se encontrar muitas mais, se quisermos»
parecia paleio de filósofo. causava um certo desconforto. porém ela continuou o raciocínio secamente
«pois, só perdemos se quisermos» estava desanimada e sem paciência para conversas de senhoras-solitárias-com-necessidade-de-meter-desesperadamente-conversa-com-alguém. ela continuava a desenhar no seu caderno de desenhos. houve um momento de silêncio. o que ela estranhou um pouco. sem levantar a cabeça, passava a borracha pela folha.
«é a menina não é?» perguntou a velhota tocando com os dedos numa das figuras desenhadas.
parecia paleio de filósofo. causava um certo desconforto. porém ela continuou o raciocínio secamente
«pois, só perdemos se quisermos» estava desanimada e sem paciência para conversas de senhoras-solitárias-com-necessidade-de-meter-desesperadamente-conversa-com-alguém. ela continuava a desenhar no seu caderno de desenhos. houve um momento de silêncio. o que ela estranhou um pouco. sem levantar a cabeça, passava a borracha pela folha.
«é a menina não é?» perguntou a velhota tocando com os dedos numa das figuras desenhadas.
«eu? quer dizer...mais ou menos», 'que raio de resposta' pensou ela enquanto e velhota de cabelos brancos dizia de sorriso na cara
«não tenha vergonha, eu já fui da sua idade. », ela sorriu e a velhota deu-lhe umas palmadinhas na mão «agora eu...olhe para mim. estou velha. eu é que já perdi quase tudo. encontrei uma vez um rapaz tinha eu 21 anos feitos», dizia olhando o desenho «mas deixei-o perder menina. já fui da sua idade»
«estou a perceber.» disse ela tocada pela memoria da velhota e pelos jogos de palavras por ela usados.
«vi que percebeu. se não tivesse parado de correr, não teria perdido o comboio»
«não vou perder mais comboios», disse retribuindo a metáfora ao mesmo tempo que lhe dava a impressão de ver surgir um brilho de lágrima na senhora dos cabelos brancos. «olhe! vem aí o comboio».
«boa viagem menina»
«obrigada minha senhora» disse ela sorrindo ao mesmo tempo que entrava no comboio. o resto do caminho, as ideias estúpidas como cagadelas de pombos, substituíram-se por
«não tenha vergonha, eu já fui da sua idade. », ela sorriu e a velhota deu-lhe umas palmadinhas na mão «agora eu...olhe para mim. estou velha. eu é que já perdi quase tudo. encontrei uma vez um rapaz tinha eu 21 anos feitos», dizia olhando o desenho «mas deixei-o perder menina. já fui da sua idade»
«estou a perceber.» disse ela tocada pela memoria da velhota e pelos jogos de palavras por ela usados.
«vi que percebeu. se não tivesse parado de correr, não teria perdido o comboio»
«não vou perder mais comboios», disse retribuindo a metáfora ao mesmo tempo que lhe dava a impressão de ver surgir um brilho de lágrima na senhora dos cabelos brancos. «olhe! vem aí o comboio».
«boa viagem menina»
«obrigada minha senhora» disse ela sorrindo ao mesmo tempo que entrava no comboio. o resto do caminho, as ideias estúpidas como cagadelas de pombos, substituíram-se por
'Se paras de correr, perdes o comboio e só o perdes se quiseres...'.
Diálogo na estação de comboios